22 Abril 2017

Rede de Lojas de Cidadão deve-se a Fausto Correia

Rede de Lojas de Cidadão deve-se a Fausto Correia

O antigo ministro socialista Jorge Coelho, que teve o conimbricense Fausto Correia (1951-2007) como secretário de Estado, não tem dúvidas: “Ele [Fausto Correia] foi um homem que fez muitas coisas por este país; a rede de Lojas de Cidadão deve-se a ele”, afirmou ontem Jorge Coelho, durante uma tertúlia organizada pelo semanário O Despertar, no âmbito das comemorações do centenário deste jornal. Os outros oradores na tertúlia foram o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, e o presidente da CP, Manuel Queiró.

“O Fausto Correia é um percursor da geringonça”, afirmou Jorge Coelho. E explicou porquê: “O Dr. Fausto Correia integrou 93 mil precários da Administração Pública; uma pessoa que faz isto é uma pessoa com muita qualidade.” O atual comentador político lembrou ainda que Fausto Correia procedeu ao recenseamento dos trabalhadores da Administração Pública, uma informação pertinente que entretanto deixou de estar disponível.
De resto, Jorge Coelho não poupou nos encómios a Fausto Correia. “É até comovente falar de um dos maiores amigos da minha vida”, “faz-nos cá muita falta”, “um gigantesco humanista”, “era um homem muito corajoso”, “um excelente membro do Governo” ou, conforme concluiu: “um grande homem, um grande amigo, um grande coração, de quem eu tenho muitas, muitas saudades”.

Já Manuel Machado contou alguns episódios que ajudam a perceber a personalidade de Fausto Correia. Como o de um amigo que anunciou que iria suicidar-se na ponta de Sagres devido a problemas relacionados com um filho toxicodependente. Fausto Correia não hesitou. Foi até ao extremo do país, “deu-lhe uma palmada, pô-lo dentro do carro e trouxe-o até Coimbra”, salvando-lhe a vida. 

Noutra ocasião, um grupo de “miúdos” tinha por costume viajar até Lisboa no carro do pai de Fausto Correia, quando o progenitor se entregava aos braços de Morfeu. Mas uma vez a aventura correu mal. O carro foi roubado na capital. Regressado a Coimbra, o grupo concentrou-se num conhecido café da cidade. Fausto Correia, naturalmente, não desejava regressar a casa, com receio da reação paterna. Foi então que apareceu “Manuel Cigano”, amigo de escola de Fausto Correia, que se inteirou do caso. Fez um telefonema num telefone público (ainda não havia telemóveis) e anunciou que às cinco da tarde o carro estaria no Terreiro da Erva. E estava mesmo.

Nas famosas tertúlias em que Fausto Correia participava, o autarca recordou que muitas vezes começavam a perguntar de quem iriam dizer mal e, na verdade, acabavam a enaltecer a “vítima”. 

Manuel Machado agradeceu a todos os que fizeram o jornal O Despertar durante o século entretanto decorrido, incluindo a família de Fausto Correia, e descreveu-o como “um jornal de causas de Coimbra, mesmo quando era o único que persistia em defender causas de Coimbra e mesmo quando tinha menos capacidades económicas – e teve fases dessas”. Manuel Machado anunciou ainda que a Câmara Municipal de Coimbra vai editar um livro sobre o jornal, que deverá ser apresentado no próximo dia 4 de julho. 

Por seu turno, Manuel Queiró começou a falar do malogrado amigo com uma advertência: “Se isto fosse um jantar de amigos do Fausto Correia não cabíamos todos cá dentro.” Para o político centrista, atual responsável da CP, “o Fausto é o símbolo de uma geração e até de uma época, e não só em Coimbra, essa época também marcou Lisboa”. 

A sessão, que decorreu no Restaurante Gustav, contou, antes mesmo da tertúlia, com intervenções de João Nuno Calvão da Silva, Lino Vinhal (atual proprietário do jornal O Despertar) e António Vieira Cura. Este último revisitou a história da imprensa coimbrã. A iniciativa contou com inúmeras personalidades (cerca de 60) com projeção em Coimbra e no país, uma “seleção” eclética nem sempre vista na cidade.

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