A equipa curatorial desta edição vai ser, então, composta por Hans Ibelings e John Zeppetelli, nomes incontornáveis nos campos da arquitetura e da arte contemporânea a nível internacional. Com percursos distintos, mas complementares, a dupla de curadores propõe uma bienal que questiona as hierarquias instituídas e aposta numa lógica de reciprocidade, cuidado e transformação. Daniel Madeira, que integra a estrutura do CAPC, vai ser o curador assistente.
Hans Ibelings é historiador de arte e de arquitetura, professor na Daniels Faculty of Architecture, Landscape and Design da Universidade de Toronto e editor da Architecture Observer. Fundador da revista A10 – new European architecture, Ibelings tem comissariado exposições desde 1989 e é autor de vários títulos de referência. Doutorado pela Universidade de Coimbra em 2019, o seu trabalho atual explora uma abordagem não hierárquica à história da arquitetura e do ambiente construído.
Já John Zeppetelli é curador na Art Gallery of Ontario, em Toronto. Com uma carreira marcada pela direção do Museu de Arte Contemporânea de Montreal durante mais de uma década, foi responsável por exposições emblemáticas como Leonard Cohen: A Crack in Everything (2017) e Velvet Terrorism: Pussy Riot’s Russia (2023). Com formação em cinema, é também realizador premiado e foi professor de Vídeo Arte nas universidades NSCAD e Concordia, no Canadá.
Relativamente ao tema escolhido para a edição de 2026 — Segurar, dar, receber (To hold, to give, to receive) — parte do termo proto-indo-europeu que deu origem à palavra “habitat” — ghabh, que significa segurar, dar e receber. A partir das ações ‘segurar, dar e receber’, a equipa curatorial propõe uma reflexão profunda sobre os modos como arte, a arquitetura e a experiência pública podem construir um habitat simbiótico, anárquico e horizontal — um espaço de relação entre obra, artista e visitante, fundado na reciprocidade e na partilha, em vez de seguir a lógica de competição ou exclusão.
Inspirando-se na noção de apoio mútuo de Peter Kropotkin, esta bienal questiona as hierarquias arbitrárias e procura expandir o campo do que é reconhecido como prática criativa — incluindo arte, design, arquitetura, artesanato, paisagismo, folclore, jardinagem, entre outros — como formas igualmente válidas de intervenção sensível no mundo.
A exposição será um espelho do próprio gesto curatorial: as obras reunidas proporão novas formas de imaginar o ato de segurar, dar e receber, fora de esquemas de dominação, dentro de ecologias de cuidado, interdependência e escuta.
O Anozero – Bienal de Coimbra é uma iniciativa organizada pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra e Universidade de Coimbra desde 2015. É também um programa de ativação e reflexão sobre espaços patrimoniais, cujo momento fundador foi a classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO, em 2013.
Mais informações sobre a programação, locais e artistas participantes vão ser divulgadas nos próximos meses.
Créditos fotográficos: Câmara Municipal de Coimbra | Nuno Ávila
Vídeo: Câmara Municipal de Coimbra | Marta Costa