Coimbra recebeu, em abril deste ano, uma importante doação arqueológica. O acervo doado por Júlio Pereira é composto por 804 fragmentos de artefactos, de um vasto período cronológico, que dão agora origem a uma exposição ontem inaugurada nos Paços do Concelho.
Natural de Coimbra, onde nasceu em 1947, Júlio Manuel Pereira é uma figura multifacetada, com interesses que passam pela arqueologia, história local, património e análise sociopolítica. Licenciado em Ciências Sociais e Políticas, concluiu em 1999 o mestrado em Pré-História e Arqueologia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com uma dissertação sobre artefactos de pedra polida.
A vida levou-o a Tancos, onde cumpriu o serviço militar durante seis anos, posteriormente, fixou-se em Vila Nova da Barquinha, onde lecionou a disciplina de português, na Escola Secundária Barral Filipe, onde, após o 25 de abril, exerceu um mandato como vereador da Câmara Municipal, com intervenção sobretudo na área da cultura e património. Ocupou, também, vários cargos de relevo na CP.
Desde muito cedo que iniciou uma intensa atividade no mundo da arqueologia, tendo fundado o Núcleo de Arqueologia da Associação Histórico-Cultural de Vila Nova da Barquinha, cujo papel foi preponderante no conhecimento de novos sítios arqueológicos na região, com uma ampla cronologia desde o paleolítico inferior à época romana. Para além disso, escreveu regularmente artigos sobre a história local, no jornal Novo Almourol, dirigiu e editou uma folha quinzenal chamada “Biface”, de divulgação da arqueologia, e manteve colaboração em jornais regionais e publicações científicas.
Colaborou em várias iniciativas por terras ribatejanas, destacando-se os Campos de Trabalho Nacionais e Internacionais de Arqueologia e um Curso (Livre) de Iniciação à Arqueologia, e organizou diversas exposições sobre arqueológica. Foi diretor científico, corresponsável e colaborador de alguns trabalhos arqueológicos, desde Lagos, Pedrógão, Serpa, Covilhã, tendo ainda participado Arruda dos Vinhos, Ferreira do Zêzere e contribuiu ainda na montagem do Centro de Interpretação de Arte Rupestre de Vide, em Seia.
Com a reforma, retomou às origens, Coimbra, cidade onde reside na atualidade e dedica-se ao universo da literatura. Até ao momento, publicou oito romances, onde alia a ficção ao rigor científico. Destacam-se os seus últimos trabalhos, uma tetralogia cuja ação principal ocorre na urbe coimbrã e tem como pano de fundo o ambiente do período que decorre entre os anos de 1950 e o 25 de abril de 1974, sob o aspeto político-social, focando-se sobretudo na vida simples da gente pobre e remediada.
Créditos fotográficos: Câmara Municipal de Coimbra | Nuno Ávila