Uma reflexão sobre humanidade e barbárie
A mostra parte da metáfora da “cegueira branca” que, no romance de Saramago, desencadeia a desagregação ética e social de uma comunidade. Tal como no livro, a exposição percorre temas como a perda de referências, o colapso dos valores, a violência, o medo e a forma como a humanidade resiste em condições extremas. A figura da “mulher do médico”, a única personagem que mantém a visão, serve de fio condutor para a leitura curatorial, simbolizando clarividência, compaixão e esperança.
Três pisos, três percursos narrativos
A exposição distribui-se por três pisos, que constroem gradualmente uma interpretação visual da obra literária. O primeiro explora a desorientação provocada pelo desaparecimento do visível, num ambiente marcado pela perda de referências e pela sensação labiríntica que devolve o ser humano ao instinto primário de sobrevivência. O segundo evoca o enclausuramento, a fome e a violência que se abatem sobre os mais vulneráveis, expondo a brutalidade exercida sobre as mulheres e os seus corpos reduzidos a mercadoria. O terceiro confronta o visitante com a destruição da cidade e da estrutura social, contrapondo-a aos elementos terra, água e fogo, que castigam e, simultaneamente, libertam, abrindo espaço para a esperança simbolizada pelo amor incondicional da “mulher do médico”.
Uma escolha de obras que dialogam com Saramago
A seleção reúne obras de artistas como Andy Denzler, António Augusto Menano, Eduardo Nery, Ilda David, Álvaro Lapa, Julião Sarmento, Malangatana, Pedro Cabrita Reis, Sarah Affonso e Noronha da Costa, entre muitos outros. São trabalhos que, apesar de não terem sido criados para ilustrar a narrativa de Saramago, convocam questões universais sobre a condição humana, aproximando-se da reflexão que sustenta o romance.
A exposição estará patente até 22 de março de 2026 e pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 10h00 às 18h00, e aos sábados e domingos, entre as 10h00 e as 13h00 e das 14h00 às 18h00. O espaço encerra às segundas-feiras e feriados.