Rui Horta é um veterano selvagem. Só essa condição lhe concede a ousadia e a obstinação necessárias para regressar, após 30 anos de ausência, aos palcos como bailarino. A peça que Rui Horta vai apresentar no palco do Grande Auditório do Convento São Francisco chama-se “Vespa” e marca este regresso. “Vespa” é um solo, com um registo muito pessoal, íntimo, sem, no entanto, pretender “contar a vidinha em palco” o que seria, como afirma o criador, “o melhor caminho para a má arte”.
Ao completar 60 anos, Rui Horta volta a dançar. Na sequência de uma lesão, o criador interrompeu a carreira de bailarino quando tinha 30 anos. Fora dos palcos, apaixona-se pela composição coreográfica, acabando por lhe dedicar grande parte da sua carreira durante as últimas três décadas.
Nas artes performativas o seu trabalho de encenador estende-se ao teatro, à ópera e à música experimental, sendo ainda desenhador de luzes e investigador multimédia, universo da criação que utiliza frequentemente nas suas obras.
Em “Vespa”, Rui Horta é, para além de intérprete, o autor do texto, da luz e da banda sonora.
No fio da navalha, desafiando a fronteira entre registo público e privado, Rui Horta explora na sua nova criação coisas que temos dentro da cabeça, pensamentos indizíveis, embora comuns a todos nós. Mas “Vespa” é também uma peça sobre as inquietações do mundo contemporâneo, alertando para a necessidade de resistir, de continuar a lutar e a dançar.
“Vespa” é uma peça sobre uma cabeça a explodir, sobre o que nem sequer falhámos porque nos coibimos de cumprir. Após três décadas, Rui Horta regressa à condição de intérprete, num solo íntimo que fala dos pensamentos que não revelamos a ninguém. Ou é ou não é. Então, que seja. Que haja luz, fogo, dor e, sobretudo, corpo. Que haja um raio que ilumina e destrói. Mas que haja. Que seja.
“’Há coisas que temos dentro da cabeça. Como um zumbido a roer o pensamento’. Estas são as primeiras palavras de Vespa, e aquelas que, nem sempre sendo ditas, transportam o mundo interior da criação: uns parênteses, um tempo parado onde cristalizamos e cuspimos o que nos transcende e atormenta, um instante que se expande para um tempo mais vasto.
Quando olho para os últimos meses nem sei bem porque decidi fazer esta obra… Provavelmente porque as coisas mais importantes são também as mais inexplicáveis e as menos racionais.
Tal como um serial killer que se esconde atrás dos seus crimes, também o criador se protege do olhar do público, escondido atrás das suas obras e dos seus intérpretes. A diferença é que este solo aconteceu assim, simplesmente, como uma possibilidade, uma fractal, uma marca fugaz, apenas isso. Um lugar desprotegido e, pelo menos no meu caso, por muito pessoal que seja, não é autobiográfico, não conta o homem e fala de futuro.
Quantos furacões de força 4 e quantos terramotos de grau 7 iremos enfrentar antes de falar das coisas mais simples e dos detalhes mais risíveis? Até Oscar Niemeyer, do alto dos seus 99 anos, e quando confrontado com a pujança da sua obra, apenas nos dirige um olhar cândido e frágil, mais profundo que qualquer palavra.
Vespa tem esse mesmo olhar sobre o futuro, um reduzir do homem a uma ínfima partícula do cosmos, contemplado com alguma perda, muita compaixão e uma boa dose de ironia”.
Rui Horta
FICHA TÉCNICA
Coreografia, iluminação, interpretação | Rui Horta
Música original | Tiago Cerqueira
Aconselhamento artístico | Tiago Rodrigues, Marlene Monteiro Freitas
Apoio dramatúrgico | Pia Krämer, Mariana Brandão
Direção técnica | Tiago Coelho
Direção de produção e difusão | Mariana Brandão
Produção executiva | O Espaço do Tempo
Coprodução | Centro Cultural Vila Flor / Guimarães; Convento São Francisco / Coimbra; Teatro Aveirense / Aveiro; Centro de Artes de Ovar / Ovar; Hellerau Europäisches Zentrum der Künste / Dresden
Residência artística: O Espaço do Tempo
Convento São Francisco | Palco do Grande Auditório
29 abril | 21h30
30 abril | 17h00
M/16 | 60 min
Bilhetes
Geral: 8 euros
Estudantes, menores de 30 anos, maiores de 65 anos e grupos (a partir de 10 elementos): 7 euros
Grupos organizados de professores(as) e alunos(as) de dança: 5 euros