27 Julho 2017

Fernando Monteiro defende que a mulher terá cada vez mais importância na canção de Coimbra

Fernando Monteiro defende que a mulher terá cada vez mais importância na canção de Coimbra

O cultor da canção coimbrã Fernando Monteiro afirma que “a mulher irá ter cada vez mais importância na canção de Coimbra”. Este especialista falava no Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), situado na Torre de Anto), esta quarta-feira, no âmbito do ciclo de palestras organizado pelo Município, “Canção de Coimbra: Memórias e Testemunhos”, o segundo ciclo dedicado a esta temática, depois do sucesso obtido com o primeiro, “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”. 

Na sessão, Fernando Monteiro abordou essencialmente o seu percurso na Canção de Coimbra, contando alguns episódio que o marcaram. De tudo o que tem feito, não esconde que é o ensino aquilo que lhe dá mais gozo. Como contou, muitas vezes é mais desafiante ensinar quem não tem tanta aptidão, mas que tem amor e se esforça até atingir a boa forma. Fernando Monteiro vem dum tempo em que a docência da guitarra e do canto era essencialmente partilhada. “Era feito colega a colega”, como explicou. O cultor da canção de Coimbra confessou que chegou a pagar para aprender guitarra e diz que não se arrepende. Referiu também alguns nomes importantes que o puxaram para o fado como, por exemplo, Domingos Sequeira da Silva, os Irmãos Donado ou Paradela de Oliveira. Momentos que destacou no seu percurso como tendo grande relevância, o facto de ter ido, em 1978, juntamente com Jorge Gomes, ensinar para a então criada Escola de Fado do Chiado. “Aqui o ensino era feito com método”, recordou. Outro momento relevante foi o convite de Quim Reis para ir, novamente com Jorge Gomes, ensinar para a secção de fado da Associação Académica de Coimbra e assim continuar o trabalho anteriormente desenvolvido por Francisco Dias e Jorge Moura.

Como contou, passaram-lhe muitas pessoas pelas mãos. “Novidade foi o ensino de moças como a guitarrista Helena França ou as violistas Fernanda Serra, Maria José e Elsa”. Fernando Monteiro não exclui as mulheres da canção de Coimbra e ele próprio já acompanhou senhoras. Em 1982, Fernando Monteiro criou a escola de fado do Orfeão Académico. Como disse, “o Grupo de fados do Orfeão era o prato forte, o que criou resistências dentro do orfeão”. Fernando Monteiro lembrou que, por altura da Crise Académica, o Fado de Coimbra foi perdendo o seu vigor e que, mais tarde, em 1975, é a canção de intervenção que começa a florescer. Só depois é que o fado recomeça a ganhar ânimo em casas onde era partilhado, como, por exemplo, a Diligência, o 1910, o Trovador ou a Gruta. “Bares que corríamos durante toda a noite, até fecharem as portas”, relembrou. Fernando Monteiro vê o futuro do Fado de Coimbra de forma eclética e, falando da antiga geração de fadistas presentes na sala, afirmou: “Não são vocês que vão resolver o futuro do fado de Coimbra, pois isso não nos cabe a nós.” Relembrou que nos dias que correm, já não existe partilha entre músicos e que o fado começa a ser encarado como uma profissão. 

Fernando Monteiro é licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, e pós-graduado em Medicina Legal, pelo Instituto de Medicina Legal de Coimbra. No plano jurídico, iniciou a sua atividade na advocacia, ingressando, posteriormente, no Instituto de Medicina Legal para exercer funções de consultadoria jurídica, tendo aí desempenhado, também, cargos de direção e chefia. Neste âmbito é autor e coautor de trabalhos diversos, alguns dos quais apresentados em congressos nacionais e internacionais. No plano musical, iniciou a sua formação teórica e a aprendizagem da guitarra portuguesa ainda estudante liceal. Após o ingresso na Universidade de Coimbra continuou a sua formação, que se estendeu à viola e a outros instrumentos de corda. No final dos Anos 60, foi cofundador do “Grupo Sexteto de Coimbra”. Tendo regressado a Coimbra e ao país em 1975, após o cumprimento do serviço militar, o grupo foi posteriormente reorganizado com a designação “Grupo de Fados Cancioneiro de Coimbra”, que mantém. No final dos anos 70, início dos anos 80, ensinou, com Jorge Gomes, em duas escolas: na “Escola de Fado do Edifício Chiado” (durante oito anos, até à sua extinção) e na escola da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (durante doze anos). A colaboração do grupo de fados de que fazia parte no encerramento de alguns espetáculos do Orfeon Académico de Coimbra levou a que, no início da década de 80, tivesse sido convidado a criar uma escola de fado para orfeonistas, instrumentistas e, especialmente, cantores, dando origem, no seio do Orfeon Académico, ao “Grupo de Fados do Orfeon”, que António Monteiro ensaiou e dinamizou durante cerca de vinte anos. Foi colaborador de diversos organismos da academia de Coimbra (Orfeon, Secção de Fado, Coro Misto, GEFAC, Coro dos Antigos Orfeonistas e Associação dos Antigos Tunos) tendo participado em digressões artísticas por todo o país e além-fronteiras. É autor e coautor de inúmeras letras, compôs fados e arranjos instrumentais (a maior parte dos quais inéditos) e escreveu “entradas”/artigos para a “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX”. Gravou, com o “Grupo de Fados Cancioneiro de Coimbra”, o CD intitulado “Balada das Capas Negras” e teve outras participações em trabalhos discográficos da Secção de Fado e da Associação dos Antigos Tunos da Universidade de Coimbra.

O ciclo “Canção de Coimbra: Memórias e Testemunhos” não se realiza no mês de agosto, regressando no dia 27 de setembro, às 18h30, com Ricardo Dias (guitarra de Coimbra), que focalizará a sua intervenção na Canção de Coimbra nos Anos 90. O atual ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Memórias e Testemunhos” decorrerá até novembro próximo, à exceção de agosto, sempre na última quarta-feira do mês, às 18h30. Os critérios subjacentes à escolha dos oradores envolvidos neste ciclo tiveram como prévias considerações o facto de, para além de não haver repetição dos oradores da edição anterior, ter-se optado por cultores que começaram por envolver-se na Canção de Coimbra há 40, 30 e 20 anos, ou seja, de finais da década de 1970 até hoje. Trata-se de um intervalo de tempo razoável para que a distância não turve a objetividade e a cronologia dos factos, aproximando-nos dos tempos atuais, pois alguns dos cultores da presente edição estão envolvidos no circuito atual de promoção da Canção de Coimbra para turistas, o que poderá trazer mais público ao ciclo de conversas organizado pela CMC.

A calendarização próxima do ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Memórias e Testemunhos” é a seguinte: 27 de setembro – Ricardo Dias (Guitarra de Coimbra – anos 90); 25 de outubro – José Rabaça (Guitarra de Coimbra – anos 80); 29 de novembro – Luís Alvéolos (Cantor – anos 90).

 

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