Ricardo Ribeiro, voz incontornável do panorama musical português, apresenta-se amanhã, no grande auditório do Convento São Francisco, para uma homenagem a José Afonso.
Num concerto especial que se espera memorável, Ricardo Ribeiro vai pôr o fado de lado e abraçar a música de intervenção de José Afonso. “Canção de Embalar”, “Filhos da Madrugada”, “Vejam Bem”, “Grândola Vila Morena”, “Os Vampiros”, “Traz Outro Amigo Também” ou “Os Índios da Meia Praia” são alguns dos temas que se podem ouvir durante a atuação.
“José Afonso, Zeca Afonso: há nomes, como este, que não precisam de mais apresentações, mesmo na forma mais simples do familiar Zeca que logo nos punha perante a sua imagem. Aparentemente desajeitado, tímido, hesitante, quando pegava na guitarra e soltava a sua voz o mundo como que se transformava. Aquele conjunto formado pelo homem, a guitarra e o canto fazia com que o público se identificasse com as suas palavras. Havia nele qualquer coisa do antigo poeta medieval, pondo nas suas cantigas uma voz que era dele, mas era também de todo um coletivo a cujo sentimento e a cujas esperanças dava corpo. Se já antes do 25 de abril de 1974 as suas cantigas tinham entrado nessa voz comunitária, quando a Grândola se ouviu como senha para a revolução dos Cravos ninguém deixou de sentir a forma natural com que isso aconteceu. Zeca Afonso, que vinha do fado de Coimbra, que adaptou o repertório popular, que foi ele próprio um dos grandes poetas de uma cultura de resistência e de unidade, encarnou essa forma de dizer em voz alta o que, antes da revolução, só se podia exprimir quase em segredo, e depois da revolução encarnou o canto de um povo que, apesar de muitas divisões que se foram sucedendo, nas suas canções encontrou uma comunhão perfeita.
Parece incontestável a sua escolha como forma não apenas de não apagar essa voz inconfundível, mas também para dar a ver e a ouvir essa presença que, passado o tempo heróico em que surgiu, tem de ser valorizada na qualidade única do poeta que soube, como poucos, revitalizar a tradição popular e trabalhá-la com invenção e modernidade, e sobretudo do músico que explorou com igual modernidade os acordes do nosso cancioneiro e os levou a todo um povo, para lá de ideologias e de classes, pela simples razão de que, nessa conjugação do músico, do cantor e da interpretação, a Arte superou todas as diferenças.
Viva José Afonso: é o que temos de continuar a fazer.”
Nuno Júdice
Ficha Artística
Ricardo Ribeiro: voz / Filipe Raposo: piano, arranjos e direção musical / Mário Delgado guitarras / Ricardo Toscano: saxofone / António Quintino: baixo / Jarrod Cagwin: percussões
Uma encomenda (Carta Branca 2017): CCB
Bilhetes
Preços entre 15€ e 8€
Informação
Bilheteira – 239857191 | Horário: 15h00 às 20h00
Convento São Francisco
Av. da Guarda Inglesa n.º 1 A 3040 | 193 Coimbra – Portugal
Tel.:+351 239857190 | geral@coimbraconvento.pt