25 Abril 2019

Manuel Machado defende que combate ao populismo precisa dos jovens

Manuel Machado defende que combate ao populismo precisa dos jovens

O combate ao populismo e a participação ativa dos jovens na defesa da democracia, do Estado de Direito e do Estado Social foram os realces do discurso do presidente da Câmara Municipal (CM) de Coimbra, Manuel Machado, na sessão solene comemorativa dos 45 anos do 25 de Abril, que decorreu esta manhã no Salão Nobre dos Paços do Município. Manuel Machado apelou às novas gerações para que participem cada vez mais ativamente na vida pública e continuem a lutar pela democracia, pelo desenvolvimento, pela justiça, pela liberdade, pelas verdades objetivas e factuais. “Precisamos muito da vitalidade das novas gerações para o aperfeiçoamento do nosso regime democrático”, salientou o autarca.

Afirmar o espírito de Abril é, na opinião de Manuel Machado, cada vez mais importante nos dias que correm, quando há episódios de regressão da democracia que vão surgindo um pouco por todo o Mundo. “Essa regressão tem sido conseguida graças ao populismo, um vírus que está a atacar o cerne das sociedades democráticas e liberais”, considerou o edil, acrescentando ainda que o “populismo está sempre a defender a diminuição dos direitos, das liberdades e das garantias”. “O combate democrático de hoje é este! Combater o catastrofismo, a distorção, o exagero dos males, as narrativas em que está tudo mal apesar dos factos, em que a culpa de tudo é dos políticos, combater as verdades alternativas, denunciar as ‘fake news’”, defendeu, destacando que é preciso “combater o atomismo da cidadania que o populismo está a promover”.

 

E, para isso, a sociedade precisa, e muito, dos jovens. “Esta nova geração, tão preparada, tão cosmopolita e tão empreendedora, quando está em causa o bem comum – a liberdade, a democracia, a coesão social, a solidariedade com os mais frágeis, o respeito e o cuidado pelas diferentes gerações, a qualidade do espaço urbano, o ambiente, o Estado Social – esta geração não pode ficar-se por uns ‘likes’. Não digo isto para criticar. Digo isto porque precisamos deles!”, referiu o presidente da CM Coimbra. Com o presidente da Associação Académica de Coimbra, Daniel Azenha, sentado na primeira fila, Manuel Machado defendeu que tal como em “abril de 1969, na Crise Académica” os jovens continuam a ser fundamentais para o processo democrático, salientando, ainda, a importância da “ousadia”, do “ácido espírito crítico” e da “impaciência” dos jovens.

 

Manuel Machado falou ainda do processo de descentralização de competências, da sua importância – “é, sem dúvida, uma das maiores reformas estruturais do regime democrático”, considerou – e da necessidade de Coimbra o acompanhar. “Em Coimbra, devido a meras contingências políticas locais, estamos ainda a marcar passo, contra a minha vontade, no processo de descentralização”, afirmou, considerando ser necessário dar este passo “para combater uma doença grave chamada ‘centralismo’ (…) e para servir melhor o bem comum”. “Às expectativas de hoje só se pode responder com realismo, através da modernização da Administração Pública, em geral, e da governação autárquica, em particular. Todos temos que nos empenhar em recriar a esperança num mundo melhor. Essa é a única forma de estar à altura do desafio democrático e progressista que nos lançou o 25 de Abril”, concluiu.

 

 

Deputados municipais de todas as forças políticas representadas na Assembleia Municipal também intervieram

 

O combate ao populismo e a importância das novas gerações lutarem por uma democracia melhor também foram assuntos abordados pelo jovem deputado municipal do Partido Socialista, José Dias. “É tão grande a responsabilidade de quem fez a conquista democrática, como de quem terá de a saber preservar e perdurar. Diria que este é o maior desafio da nossa democracia, principalmente com o assustador crescimento, em Portugal, na Europa e no mundo dos movimentos populista desrespeitadores dos direitos e garantias”, considerou, deixando um apelo à sua geração: “Às dezenas de jovens que hoje aqui se encontram, peço que se envolvam cada vez mais, todos os dias. (…) A nossa geração é interessada na política e quer ter intervenção cívica ativa. Inconformistas rebeldes, não deixaremos o país cair no amorfismo do passado e não abdicaremos das principais causas da nossa sociedade. Está nas nossas mãos, tal como esteve nas mãos dos estudantes de 69”.

 

Também a deputada municipal do Somos Coimbra, Filomena Girão, alertou para o populismo. Filomena Girão afirmou comemorar o 25 de Abril “tão feliz quanto desassossegada. Feliz por ter crescido em liberdade (…) mas desassossegada também já que, amanhã e depois, é tempo de realizar a democracia, protegendo-a dos populismos e demagogias que já espreitam por aí”. Filomena Girão defendeu ainda “as vozes de hoje”, de jovens, a quem não é dada a devida atenção, e deu o exemplo da intervenção de dois rappers, Valete e Sam The Kid, através de duas músicas em que a política é tema de fundo, respetivamente “Monogamia” e “Abstenção”.

 

As fragilidades da democracia atual e a necessidade de a aperfeiçoar foram assuntos presentes no discurso do deputado municipal do CDS, Pedro Filipe. Elogiando as conquistas de Abril e defendendo a democracia como o melhor sistema de governação, Pedro Filipe alertou, contudo, para o facto da “democracia na sua forma moderna se mostrar, por vezes, incapaz de conter o mau uso do poder”. “A questão é que hoje se fala muito em democracia e direitos e pouco em responsabilidades, deveres ou cidadania”, considerou o deputado municipal, defendendo que é necessário que as pessoas saibam “que não basta votar” e “conceder poderes aos seus representantes”, é preciso que acompanhem e controlem as suas ações “participando nas instituições democráticas, públicas ou privadas, visando a efetiva e contínua participação na democracia e na proteção da República Portuguesa”.

 

O deputado do Partido Comunista Português, Manuel Rocha, falou do trabalho e dos direitos dos trabalhadores que, ainda hoje, 45 anos depois da Revolução dos Cravos, não são devidamente assegurados, considerando que aí reside o principal problema da sociedade atual. “Hoje, como ontem, o que está em causa é decidir o que fazer com os ganhos resultantes do progresso científico e técnico: se investir no bem-estar da Humanidade ou garantir o rumo da acumulação de capital. O que está realmente em causa é saber se o trabalho – a única fonte de transformação das vidas, é um elemento de progresso ou apenas um recurso mais na folha de lucros das grandes multinacionais, logo antes da invenção dos jogos financeiros que eliminam a dignidade da existência humana”, considerou Manuel Rocha, terminando o discurso com um balanço entre o ‘antes’ e o ‘pós’ 25 de Abril, e a história que conduziu a essa revolução e ao dia em que o povo saiu para a rua e venceu. “É caso para estarmos muito felizes”, concluiu.

 

Já Graça Simões, do movimento Cidadãos por Coimbra, trouxe uma carta que escreveu para a neta ou o neto que vai nascer no verão, “num país distante”. Graça Simões explicou-lhe um pouco da Revolução dos Cravos e a importância que ela teve, falou-lhe de Portugal e de Coimbra e de tudo o que ela, ou ele, vai poder usufruir em liberdade, pelas conquistas alcançadas no 25 de Abril. “É isso que faço aqui hoje, no Salão Público e Nobre da minha cidade, que será também uma das tuas, dizendo a todos que só há fortes razões para acreditar no valor da Liberdade, única forma justa de se contruírem futuros, sem muros, abraçando a Terra”, leu a deputada.

 

Por seu turno, o deputado do PSD Nuno Freitas deu enfâse à requalificação da Escola Secundária José Falcão. “Tem que se fazer a obra na escola e eu gostava de ver o 25 de Abril lá, todos juntos, sem bandeiras políticas”, referiu.

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