“É importante que isto não se perca, do meu ponto de vista, e é por isso que a Câmara Municipal apoia esta passagem à estampa de edições referenciais”, acrescentou ainda o presidente da autarquia, elogiando a obra do autor. “Estes jornais que estão aqui referenciados são um conjunto de palavras impactantes, porque foram escritas num tempo de luta intensa, de debate, de encontros e desencontros, de convergências e divergências, de fazer tudo o que era importante para a nossa comunidade sentir o coletivo, que imperou nesta etapa da nossa vida”, salientou Manuel Machado, lembrando que “os jornais em Portugal, antes do 25 de Abril de 1974 e a seguir, pela palavra, contribuíram fortemente para que a esperança não se perdesse”.
A obra “a palavra” contém, além de um interessante registo visual, uma reflexão retórica sobre o trabalho de Nuno Nunes-Ferreira, através de um texto da autoria de Hugo Dinis e um ensaio do historiador Rui Bebiano. “O que o Nuno Nunes-Ferreira tenta resgatar são as palavras que podiam ter sido ditas desde maio de 1969 até abril de 1974 e que depois explodiram a partir de 1974 até 1976”, afirmou o apresentador da obra, Hugo Dinis, acrescentando que o livro tem uma conotação de dar voz a quem não a tem” e agradecendo à CM Coimbra e ao presidente Manuel Machado por todo o interesse demonstrado no trabalho de Nuno Nunes-Ferreira.
“Quem me conhece sabe que eu não sou uma pessoa de muitas palavras e tento sempre esquivar-me a esta parte do discurso. Eu falo do trabalho como artista, mas através de uma obra visual”, começou por dizer o autor, Nuno Nunes-Ferreira, agradecendo pela exposição que fez na Sala do Capítulo, no Convento São Francisco, que “teve um cariz muito especial pelo espaço, pela nobreza do edifício, pela história, por ser em Coimbra” e também pelo “convite, para passar a exposição a livro, porque a concretização do livro é um pouco o eternizar do momento efémero da exposição”. “Quando viajo neste meu arquivo sou transportado para esse tempo e, através dos jornais, quase que vivo o dia a dia desse processo que aconteceu com o 25 de Abril”, acrescentou ainda o autor, deixando um agradecimento único, mas agregador: “Obrigado, Coimbra”.
O presidente da CM Coimbra agradeceu “o contributo que estes documentos e estes estudos dão para valorizar Coimbra e a nossa pátria” e lançou um desafio ao autor, para a realização de tertúlias no Convento São Francisco sobre a temática explorada no livro. “Isto merece uma reativação. (…) Qualquer destas páginas ou aquelas que estavam lá em baixo expostas dão para uma belíssima tertúlia, de onde resulte um produto: riqueza intelectual, abertura de espírito, sem tabus, sem preconceitos e aproveitar assim não para gastar as palavras, mas para dar vida às palavras. Este é um desafio”, sublinhou Manuel Machado.
A apresentação do livro “a palavra” contou, ainda, com a presença da vereadora da Cultura da CM Coimbra, Carina Gomes, da deputada à Assembleia da República, Cristina Jesus, entre outras personalidades.