Segundo a informação dos serviços municipais, este projeto documental enquadra-se “na estratégia de preservação da memória coletiva do território do Município de Coimbra, cuidando e preservando o seu património cultural material e imaterial”, bem como “o interesse público municipal subjacente ao projeto cinematográfico de criação, produção e realização do filme ‘Salatinas’, será consubstanciado na visibilidade e na homenagem a esta população de Coimbra profundamente afetada pelas demolições da Alta”; e o projeto “contribui para o conhecimento da história, fortalecimento do vínculo comunitário e sentido de pertença a um território”.
A equipa é constituída por Filipa Queiroz (jornalista e editora), Rafael Vieira (arquiteto e jornalista) e Tiago Cerveira (videógrafo e cineasta). Tal como explica a informação municipal, uniram-se em torno de um desígnio comum: contar a história dos salatinas no grande ecrã, homenageando esta população de Coimbra através de um filme documental que apresente a comunidade, de viva-voz, ao público nacional e internacional. Todos eles nasceram em Coimbra e todos têm uma forte ligação afetiva ao tema já que têm ascendência familiar salatina. Acresce a este vínculo familiar, o interesse histórico, temático e narrativo pelo tema.
Estima-se que, a partir dos anos 40 do Séc. XX, cerca de 3.000 mil salatinas tenham sido deslocados da Alta para outras zonas da cidade, entretanto rodeadas e absorvidos pelo espaço urbano. Nesse processo transformativo e violento, cerca de duzentos edifícios de vinte quarteirões foram arrasados e os desalojados distribuídos por novas moradas, construídas para os acolher na então periferia da cidade: o Bairro da Fonte do Castanheiro, na Arregaça, o Bairro Marechal Carmona, atual Norton de Matos, e o Bairro de Celas.
Todo o processo teve uma grande carga traumática pela mudança forçada dos habitantes, e teve como consequências a fragmentação de uma comunidade estabelecida, o desagregar do seu sentido de pertença e a perda de um modo de vida. Os salatinas realojados naqueles bairros levaram consigo o nome e também as tradições e as histórias da Alta.
80 anos após essa grande transformação urbana empreendida no coração da cidade, permanece uma centelha dessas memórias e vivências de antigamente naqueles que ainda estão vivos, apesar da idade avançada. Esta história, a história dos Salatinas e desta transformação urbana de Coimbra, permanece largamente desconhecida dos conimbricenses. A esta ausência de conhecimento do passado comum da cidade, junta-se a urgência de o contar pois, por cada salatina que desaparece, essa possibilidade torna-se mais distante.
Tiago Cerveira nasceu em Coimbra. É licenciado em Comunicação Social e documenta pessoas e lugares através da fotografia e vídeo. Realizador de vários documentários exibidos e premiados em festivais de cinema nacionais e internacionais, já mostrou o seu trabalho em várias exposições de fotografia individuais e coletivas. Conta com inúmeras publicações em órgãos de comunicação nacionais e internacionais. Tiago Cerveira criou a empresa Diretriz Narrativa, unipessoal, Lda. que tem focado o seu trabalho na pré-produção, produção e pós-produção de produtos audiovisuais de narrativa documental.
Os filmes documentais que produz têm primado por um ponto de vista sociológico e antropológico sobre os conceitos “pessoa” e “lugar”, sobre o papel de ambos e a forma como estes se relacionam.
Os seus filmes têm uma regular distribuição nacional e internacional em festivais de cinema da especialidade e já foram galardoados com vários prémios nacionais e internacionais atribuídos por júris de festivais de cinema.