Criado em Coimbra desde 2018, o foco principal deste festival e laboratório de criação bienal internacional é a dança contemporânea, que se desenvolve como objeto de pesquisa e programação artística e cultural. A quarta edição do projeto, apresentada hoje, dia 15 de outubro, em conferência de imprensa no Salão Brazil, contou com a presença da diretora do Departamento de Cultura e Turismo da CM de Coimbra, Maria Carlos Pêgo, e da presidente de direção da Linha de Fuga – Associação Cultural, Catarina Saraiva.
Antecedido por um pré-festival que inclui duas de sete rubricas (as restantes a decorrer durante e após o evento) do programa de discurso crítico “Conversa Sem Medo”, orientado por Tatiana Moura (Observatório de Masculinidades do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) e Catarina Silva (jovem produtora e ativista de Coimbra), o programa do festival integra diversas propostas artísticas de artistas, nacionais e internacionais.
Assim, Raquel André propõe uma reflexão sobre a equidade de oportunidades através do seu ADN, no espetáculo de teatro e cinema performativo “Belonging”; Marina Guzzo expõe a possibilidade e a necessidade de ligação do ser humano com a natureza na performance-oficina “Mistura”; Elizabete Francisca resignifica elementos da mitologia portuguesa na performance e exposição fotográfica “Os meus totens”; em “Reinscrever-se pelo chão”, Julia Salem pretende investigar diversas errâncias no campo e na cidade e estabelecer pontes entre estes territórios a partir da historicidade e da fabulação; com recurso às plataformas digitais, Malicho Vaca revela a sua topografia emocional no ensaio documental biográfico “Reminiscência” (teatro); Paloma Calle expõe os seus traumas pessoais, partindo do formato de stand-punk comedy “Paloma Calle que se calle”; Inês Campos processa o significado da saúde mental na performance de dança “Fio^” e Francisco Thiago Cavalcanti, em conjunto com o Coletivo Um Cavalo Disse Mamãe dança até à exaustão para escapar a um mundo sem esperança, na peça “Também se matam cavalos”.
Realizando-se em paralelo ao festival e concebido como um campo de experimentação, aprendizagem e partilha coletiva de práticas artísticas e do desenvolvimento de processos criativos, o Laboratório Internacional de Criação reúne artistas e criadores de diferentes origens e áreas artísticas para exercitar o pensamento crítico e a análise do conceito que se propõe discutir em cada edição. Selecionados a partir de uma convocatória internacional com cerca de 100 candidaturas, os 12 artistas desta edição (António Pocinho Rivotti, Ar Utke Ács, Bárbara Cordeiro, Beatriz Silva Aranda, Claudia Ganquin, Jéssica Lopes, Masu Fajardo, Mayara Baptista, Nicolas Brunelle, Rafael Campos, Rita Westwood e Thales Luz) foram escolhidos através de projetos artísticos que propõem formas de se relacionar com a cidade através do tema em discussão.
Durante três semanas, os participantes terão acesso a espaços de trabalho, a olhares críticos que acompanham o laboratório e a workshops de práticas artísticas que se desenvolvem com inspiração no tema desta edição.
Neste enquadramento, no laboratório “Entre o Mistério e Maestria – Ordem, Conflito e Delírio”, conduzido pelo artista e coreógrafo Gustavo Ciríaco na Sala Polivalente da Casa Municipal da Cultura (4 a 8 de novembro), os participantes serão guiados por uma jornada de reflexão em torno das suas práticas, explorando a construção do objeto artístico e o convite à sua fruição pelo público. No workshop “A Arte e os desafios das dinâmicas sociais”, proporcionado por Paloma Calle, no CITAC, os participantes refletem sobre a criação artística, utilizando ferramentas da Terapia Gestalt como guias para examinar não apenas a obra de arte, mas também o processo criativo e as dinâmicas relacionais entre pessoas, incentivando os participantes a confrontarem os seus medos de forma criativa.
Destaque ainda para o fomento de apresentação de iniciativas locais, com a produção de três obras curtas (“Exercícios para subversões e inutensílios”, de Keissy Carvelli, “Rasgar a noite”, de Malu Patury e “CÊ VÊ”, de Jorgette Dumby), em formato de percurso no Convento São Francisco, nos dias 9 e 10 de novembro, a artistas que participam na formação sobre práticas artísticas desenvolvidas pela Linha de Fuga, no programa de apoio à criação local “Corpo | Território”. Este equipamento municipal integra ainda os espetáculos “Reminiscência”, de Malicho Vaca/Le Insolente Teatre (9 de novembro) e “Também se Matam Cavalos”, de Francisco Thiago Cavalcanti (29 de novembro), bem como os laboratórios que decorrem durante o mês de novembro na Blackbox e na Project Room.
A edição do ano corrente objetiva ainda a sustentabilidade da estadia dos artistas estrangeiros, com incentivo a uma permanência mais prolongada na cidade, tendo em vista aprofundar o diálogo com os processos do laboratório, bem como a participação em conversas e encontros.
Evidencia-se também a abordagem multidisciplinar do projeto, que se expande para outras áreas artísticas além da dança contemporânea, com o acolhimento de outros dispositivos desses artistas de dança, possibilitando diálogos sobre diferentes formas de ver os conceitos propostos.
O Município de Coimbra, que tem vindo a investir na área da dança, reconhece o evento como estratégico e prioritário na promoção desta área na paisagem artística e cultural do território, prevendo um investimento de cerca de 22 mil euros, no âmbito desta coorganização, sujeito à aprovação dos órgãos autárquicos competentes.
Créditos fotográficos: Câmara Municipal de Coimbra | João Paulo Silvano