A Canção de Coimbra foi novamente debatida, na tarde do dia 18 de junho, no Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), que funciona na Torre de Anto. O debate, dedicado a António Bernardino, integrou o ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”, que a CMC se encontra a promover e que vai decorrer até ao final do ano.
“Do repertório clássico à importância do LP Flores para Coimbra” foi o tema apresentado pelos oradores José Miguel Baptista e Luís Alcoforado, cantores que se juntaram, por diversas ocasiões, a António Bernardino para levar a Canção de Coimbra a vários pontos do país e estrangeiro.
A sessão foi centrada em António Bernardino, agora que passam 20 anos do seu desaparecimento, e na importância do LP “Flores Para Coimbra”, de 1970. Ao iniciar a sessão, José Miguel Batista começou por salientar que “António Bernardino era um homem da terra, um homem simples”. Das muitas histórias que foram contadas pelos dois oradores amigos de Berna (como carinhosamente chamavam a António Bernardino), uma dizia respeito ao facto de ele se ter interessado pela Canção de Coimbra depois de, no campo, ter ouvido cantar a “Samaritana”.
Para Luís Alcoforado, António Bernardino sempre foi uma fonte de inspiração, ao ponto de já ter cantado mais de 80% do seu repertório. E mais ainda ficou curioso em aprofundar o seu conhecimento sobre Bernardino por, várias vezes, o comparam com ele na sua forma de cantar.
Como foi referido na sessão, o modo de cantar de António Bernardino ”tem influências de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira”. Mas, como disse Luís Alcoforado, Bernardino “tinha a matriz de Coimbra mais identificada”. Bernardino era também muito influenciado por Menano, já que os primeiros fados que ouviu pertenciam a este compositor e intérprete. Porém, como disse Alcoforado, “Berna tinha um estilo muito próprio”.
Para José Miguel Batista, a voz de António Bernardino era de barítono. “Ele tinha uma grande amplitude vocal e por isso foi solista do orfeão”, explicou. O orador finalizou a explicação dizendo que Bernardino “não tinha grande cultura musical e vocal. Ele não acertava nos compassos, mas tinha uma grande tessitura e percebia-se tudo o que dizia, emitindo sentimentos que chegavam às pessoas”.
Como referiu Luís Alcoforado, o LP “Flores Para Coimbra” é uma obra essencial que levaria para uma ilha deserta. Sobre este disco, afirmou António Bernardino, em entrevista à Revista Mundo da Canção, antes da sua saída: “vai ser um disco bestial”. Na mesma entrevista, explicou que ”os poemas de Manuel Alegre são de crítica social”. “Este é um disco onde é muito difícil definir as canções, não é um disco homogéneo”, rematou. Como analisou Alcoforado, para Bernardino “era mais importante o poema do que a música, pois as pessoas são mais sensíveis às palavras”.
Sobre o título do LP, José Miguel Batista recordou que ele não aparece em vão. Por esta altura eram muitas as canções que falavam de flores nas suas letras e, mais importante que tudo, no ano anterior, em que se tinha vivido uma crise académica em Coimbra, os estudantes tinham-se deslocado à Baixa para oferecerem flores à população.
Esta tarde foi essencialmente pautada pelo contar de vários episódios e estórias da vida de António Bernardino, por dois oradores que foram seus amigos e que as partilharam. Foi possível ouvir alguns dos fados que deixou registados e visionar muitas fotos das muitas atuações e viagens que todos fizeram.
Esta foi a quinta sessão do ciclo “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”. Um total de oito palestras, organizadas pela CMC, com o objetivo de promover este género musical enraizado na cultura urbana da cidade e que projetou o nome de Coimbra para o mundo. A próxima palestra tem como tema “A importância da guitarra de João Bogão na discografia da Canção de Coimbra: dos Ep’s de Paradela d’ Oliveira aos LP’s de Luiz Goes””. É dedicada a João Bogão e à passagem de 95 anos sobre o seu nascimento e terá Fernando Marques como orador. Uma iniciativa de entrada livre, que está marcada para quinta-feira, dia 14 de julho, pelas 18h00, na Torre de Anto.