24 Outubro 2016

António Portugal visto pelo filho na Torre de Anto

António Portugal visto pelo filho na Torre de Anto

A Canção de Coimbra foi novamente debatida, este domingo, no Núcleo da Guitarra e do Fado de Coimbra, que funciona na Torre de Anto. “O Papel de António Portugal na Dinâmica da Canção de Coimbra dos Anos 50 aos 90” foi o tema apresentado por Manuel Portugal, jornalista, intérprete da guitarra de Coimbra, presidente da Associação Fado Hilário e filho de António Portugal. A sessão integrou o ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”, que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) organiza e vai decorrer até ao final do ano.

A conversa foi centrada em António Portugal (n. 1931 – m. 1994) por ocasião do aniversário do nascimento deste nome grande da Canção de Coimbra. Pegando no exemplo deixado por seu pai, Manuel Portugal salientou o trabalho que é necessário fazer na Canção de Coimbra, essencialmente no canto, para que esta volte a ganhar um novo impulso.

O orador falou também no papel que António Portugal teve como produtor. No quão importante era a forma como se gravavam os discos, no contato com as editoras e igualmente na forma como depois o trabalho era apresentado aos jornalistas. “O meu pai sofria muito como produtor”, adiantou Manuel Portugal, realçando que este trabalho era fundamental e que nos dias de hoje já não se lhe dá a devida importância. 

Neste sentido, Manuel Portugal não deixou de realçar a importância que o seu pai teve em convencer as editoras a gravar um rapaz que estava em Coimbra, de nome José Afonso. Em destaque esteve também o trabalho gravado para a “Philips” pelo Coimbra Quintet, produzido por António Portugal, denominado “Serenata de Coimbra”, que deu a conhecer ao mundo a voz de Luiz Goes. “Este é o disco português mais vendido de sempre em todo o mundo e que teve sete edições”, revelou Manuel Portugal.

O palestrante focou igualmente a sua atenção nos ensaios desenvolvidos por António Portugal, com a segunda geração de ouro da Canção de Coimbra, que formou vozes tão importantes como a de Fernando Machado Soares, Sutil Roque, Fernando Rolim e António Bernardino Soares, entre muitos outros.

Por fim, lembrou ainda momentos de trabalho que juntaram o guitarrista, compositor e produtor António Portugal a Florêncio Carvalho, com quem seu pai muito aprendeu e que influenciaram para sempre o seu trabalho.

O orador exemplificou depois, com a ajuda de Luís Marques, a forma como decorriam estes ensaios. Florêncio de Carvalho tinha sempre consigo um cavalete, onde eram colocadas as letras dos fados, para que os cantores os pudessem cantar dando sentido à letra, não atropelando as palavras.

Manuel Portugal é um grande defensor deste método e disse mesmo que, se existem escolas de guitarra de Coimbra, deveriam igualmente existir escolas de canto. Segundo as suas palavras, “temos em Coimbra muitos bons guitarrista, e alguns novos cantores com vozes interessantes. Contudo falta pôr os cantores a cantar fado e não ópera”.

Para o orador estes são passos importantes para que a canção de Coimbra possa de novo ter o reconhecimento que teve na altura em que o seu pai estava no ativo.

Já num repto lançado à CMC, Manuel Portugal propôs que esta recorde e perpetue o nome de Arnaldo Trindade, um editor discográfico que muito fez pela Canção de Coimbra.

Por último, o orador compartilhou com a plateia alguns episódios vividos com o progenitor, que, como explicou, levava o fado de Coimbra muito a sério. Para além de levar alguns discos importantes que foi mostrando, Manuel Portugal levou também consigo uma guitarra pertencente a António Portugal.

Esta foi a oitava sessão do ciclo “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”. Um total de nove palestras, organizadas pela CMC, com o objetivo de promover este género musical enraizado na cultura urbana da cidade e que projetou o nome de Coimbra para o mundo. A próxima palestra tem como tema “As Crises Académicas e a Canção de Coimbra” e terá Luís Marinho e Rui Pato como oradores. Uma iniciativa de entrada livre, que está marcada para terça-feira, dia 22 de novembro, pelas 18h00, na Torre de Anto. A edição 2016 culminará, depois, com um Ciclo de guitarra no mês de dezembro.

 

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