No próximo sábado (12 de agosto) cumpre-se mais uma data evocativa do nascimento de Miguel Torga, a 12 de agosto de 1907, em Sabrosa, Vila Real. Para difundir a memória da obra do poeta e prosador (e médico Adolfo Rocha), assim como o espaço onde viveu, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) evoca este grande vulto da literatura, através de uma programação que engloba a abertura da Casa-Museu, uma visita guiada com percurso dedicado à vivência de Torga em Coimbra, uma palestra e um apontamento musical.
No dia em que, excecionalmente, a Casa-Museu tem acesso gratuito, os interessados em visitar o espaço poderão fazê-lo a partir das 14h30. A Casa-Museu tem como missão divulgar a obra literária de Miguel Torga, preservar e expor publicamente objetos, da mais variada índole, relacionados com a identidade e a personalidade desta figura maior das letras, que elegeu Coimbra para viver e trabalhar.
O período da tarde é preenchido com programação que extravasa os limites da Casa-Museu, já que a CMC propõe a visita guiada Coimbra dos Escritores: Coimbra n’“A Criação do Mundo” de Miguel Torga, a partir das 15h00.
Trata-se de um roteiro feito a pé e de autocarro, que percorre alguns dos locais ligados às vivências do escritor/médico em Coimbra. O percurso parte do Largo D. Dinis (onde é feita uma alusão ao Liceu D. João III e aos antigos edifícios dos Hospitais Universitários de Coimbra), até ao Largo Marquês de Pombal (antigos laboratórios Chimico e de Física). Seguidamente o grupo é conduzido à zona do Quebra-Costas, em direção ao Largo da Portagem, onde serão referenciados e comentados o consultório e o Monumento a Miguel Torga.
O grupo desloca-se depois ao Largo das Ameias, para apanhar o autocarro (linha n.º 103 dos SMTUC), pagando cada participante o seu título de transporte (1,60 euros), em direção à Casa-Museu Miguel Torga, terminando o circuito torguiano com uma visita guiada ao espaço localizado na Praceta Fernando Pessoa, n.º 3.
A participação neste percurso torguiano requer inscrição, na Casa Municipal da Cultura, à Rua Pedro Monteiro (presencialmente ou através do telefone n.º 239 702 630).
A evocação da efeméride integra, ainda, uma demonstração de Encadernação, a cargo de Maria do Céu Ferreira (da “Chronospaper”), às 16h00.Às 17h00 realiza-se uma palestra, intitulada “Os autores com que crescemos: o legado de Miguel Torga na minha obra”, por Isabel Mateus (escritora, doutorada em Literatura Portuguesa, pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido). O momento conta também com uma breve intervenção de Cristina Borges Rocha, ilustradora dos livros de Isabel Mateus.
A partir das 18h00, cabe ao Quarteto de Instrumentos de Sopro da Orquestra de Sopros de Coimbra encerrar, com um apontamento musical, o programa que evoca o Nascimento de Miguel Torga.
Palestra – Sinopse:
“Quem ler a minha obra apercebe-se de imediato que esta se insere em A Viagem de Miguel Torga sobretudo pelas temáticas abordadas, que são comuns a ambas: desde Outros (Contos da Montanha), passando pelas minhas novelas ao encontro de Bichos até à escrita mais autobiográfica de A Criação do Mundo igualmente presente no meu livro de viagens A Terra do Chiculate. Também à poesia do Poeta e à minha assiste a mesma raiz telúrica: são «Poemas da Natureza». Poder-se-ia, então, falar numa peregrinação paralela? Talvez seja mais adequado dizer que está bem patente na minha obra o legado de Miguel Torga, que a sua influência é inegável naquilo que escrevo. Mas que, ao mesmo tempo, a minha escrita de ficção, que iniciei quando o grande Poeta do século XX já nos havia deixado, se diferencia, em parte, da dele por se situar precisamente no virar de um novo milénio, com novas preocupações no âmbito do empenhamento do social, e nela sobressair um cariz vincadamente feminino no tratamento de certos temas.
Há, porém, um ditado recorrente na narrativa de Torga que é, certamente, o nosso Traço de União assente na (im)possibilidade de conciliar ruralidade com diáspora: «…infeliz pássaro que nasce em ninho ruim. Tanto monta correr, como saltar: as asas puxam-no sempre para onde aprendeu a voar». Nem mais nem menos: o nosso apego às fragas da Pátria supera o sermos andarilhos ou traga-mundos.
A palestra terminará com uma nota poética partilhada com o público presente: a leitura do poema «Parafraseando Camões e Torga (Nas ramadas da cerdeira)» incluído no meu último livro As árvores com que crescemos e baseado no seu conto «Destinos».”
Biografia breve de Isabel Maria Fidalgo Mateus:
Nasceu em 1969, em Torre de Moncorvo. Obteve o grau de doutora em Literatura Portuguesa com a apresentação da tese A Viagem de Miguel Torga, na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, onde reside desde 2001.
Contando já com uma vasta obra escrita, Isabel Mateus é mais conhecida por abordar temáticas que incidem sobre o Portugal rural e a diáspora (A Terra do Chiculate, Contos do Portugal Rural, Outros Contos da Montanha, A Terra da Rainha). Escreveu três novelas: Farrusco – um cão de gado transmontano, Sultão – o burreco que veio de Miranda e Signatus – o lobo de Fojo de Guende. Em 2011, o seu livro de contos O Trigo dos Pardais foi incluído no Plano Nacional de Leitura. Algumas das suas obras foram traduzidos para inglês, francês e chinês. As Árvores com que Crescemos ̶ Poemas da Natureza é a sua criação literária mais recente (2017).