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23 Novembro 2016

Luis Marinho e Rui Pato reavivaram memórias da Canção de Coimbra na Torre de Anto

A Canção de Coimbra foi novamente debatida, esta terça-feira, no Núcleo da Guitarra e do Fado da Câmara Municipal de Coimbra, que funciona na Torre de Anto. “As Crises Académicas e a Canção de Coimbra” foi o tema apresentado por Luís Marinho (cantor) e Rui Pato (viola e compositor). A sessão integrou o ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”, que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) organiza e vai decorrer até ao final do ano.

Numa sessão que foi aberta por Francisco Paz, diretor do Departamento de Cultura, Turismo e Desporto da CMC, os oradores centraram as suas intervenções falando essencialmente das suas experiências pessoais ligadas à Canção de Coimbra.

Luís Marinho, atual presidente da Assembleia Municipal de Coimbra, começou por referir que foi com António Portugal que aprendeu muito sobre a Canção de Coimbra e que foi por causa de Rui Pato que começou a cantar. Contudo, disse nunca ter gostado de cantar e por isso não se considerar um cantor.

Luis Marinho referiu como ponto mais alto da sua carreira o espetáculo de homenagem a José Afonso, realizado no Jardim da Sereia, em 1985, no qual participou. “Foi o último espetáculo de José Afonso em Coimbra, onde este recebeu a medalha da Cidade de Coimbra, entregue pelo Dr. Mendes Silva”, contou.

Luis Marinho partilhou com os presentes algumas das estórias que viveu no Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), contando mesmo um episódio em que foram presos pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado, que funcionou em Portugal entre 1945 e 1969, durante a vigência do Estado Novo).

Sobre o orador que o acompanhou neste final de tarde, Luís Marinho afirmou que “Rui Pato era uma estrela nos anos 70 na Academia de Coimbra, por acompanhar Zeca Afonso que era um Deus”. “Rui Pato é uma pessoa modesta e um homem simples a quem devia ser feito um tributo”, concluiu.

Retribuindo os elogios, Rui Pato enalteceu a voz de Luís Marinho e contou que, por gostar dele, se atreveu a colocá-lo a cantar no GEFAC, levando-o numa viagem do grupo ao Algarve. Rui Pato falou de seguida da importância do GEFAC na expansão do fado de Coimbra. “O GEFAC introduziu o fado nas suas atuações sem capa e batina e ia contando a sua evolução durante os seus espetáculos”, explicou.

O orador, que toca viola desde os 14 anos, contou que nunca quis aprender solfejo, e que o que “queria era ouvir as coisas e tocar, fazendo sempre de improviso”. 

Falando de Zeca Afonso, Rui Pato contou que o famoso cantor queria nas suas canções guitarra dedilhada e que ficou encantado com os seus arranjos tendo feito o convite para o acompanhar. “Acompanhar o Zeca era perigoso e não era bem visto em Coimbra”, explicou Rui Pato, que disse mesmo ter nessa altura recebido algumas ameaças de pessoas que o queriam agredir.

Falando do seu trajeto, Rui Pato disse que quem mais o marcou foi Zeca Afonso, referindo ainda a sorte de ter conhecido o guitarrista Francisco Martins e a importância que teve António Portugal. Sobre este último falou das tertúlias que organizava em sua casa, onde se ouvia boa musica, se falava de fado e na qual nasceram alguns fados e guitarradas. 

Do seu percurso como acompanhante de Zeca Afonso, Rui Pato fez saber que, ainda no tempo do antigo regime, os sítios onde mais tocavam era na margem esquerda de Lisboa. Rui Pato contou que, mesmo já com cinco discos gravados e esgotados, Zeca Afonso não vinha tocar a Coimbra. “Ter opções ideológicas dentro da canção de Coimbra trazia dissabores”, desabafou. Por isso Rui Pato foi expulso da Universidade de Coimbra quando estava no quarto ano de medicina, em 1969, tendo ido nessa altura cumprir o serviço militar, tendo como comandante Salgueiro Maia.

Sobre a tropa, Rui Pato partilhou o episódio em que teve licença de Salgueiro Maia para se ausentar durante um dia e ir a estúdio gravar com Adriano Correia de Oliveira. E foi assim que, durante 24 horas, nasceu o disco “O Canto e as Armas”, que foi cantado por Adriano Correia de Oliveira fardado, pois este cumpria igualmente o serviço militar. “Foi tudo ensaiado no estúdio e eu não conhecia as músicas”, confidenciou.

A finalizar, Rui Pato provocou os presentes dizendo “que o fado tem futuro, e que podia aparecer outro fado onde a Academia e o país se identificasse”. “Não gosto do atual marasmo da canção de Coimbra”, apontou.

Esta foi a última sessão do ciclo “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”. Um total de nove palestras, organizadas pela CMC, com o objetivo de promover este género musical enraizado na cultura urbana da cidade e que projetou o nome de Coimbra para o mundo. A edição 2016 culminará, depois, com um Ciclo de guitarra no mês de dezembro.

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